DEMI *
Acabo de xingar Joe de idiota e a Sra. Peterson chama a atenção da classe:
— Cada dupla vai sortear um projeto, entre os vários que tenho aqui, neste chapéu — ela anuncia. — Todos os projetos são um verdadeiro desafio; vocês terão de se encontrar fora da classe, para trabalhar e...
— E quanto ao futebol? — Zac interrompe. — Não posso perder um treino sequer.
— E eu não posso perder os ensaios da torcida — diz Tiffany, antes que eu possa reclamar também.
— Os trabalhos do colégio devem vir em primeiro lugar. Você e seu parceiro podem combinar um horário que seja bom para ambos — responde a Sra. Peterson, parando em frente à nossa mesa e estendendo o chapéu.
— Sra. Peterson, um desses projetos seria a cura para a esclerose múltipla? — Joe pergunta, com aquele ar provocante, que leva meus nervos ao limite.
— Acho que um ano não seria suficiente para fazer um projeto desses...
Posso imaginar um grande “D” no meu boletim... O conselho da universidade de Northwestern não vai querer saber se meu parceiro de Química andou fazendo piadas sobre nosso projeto... Também, o cara não se preocupa com a própria vida; por que se importaria com um trabalho de Química?
A perspectiva de que minha nota, nessa matéria, dependerá de Joe, me tira do sério. Para meus pais, o boletim é um reflexo direto do valor de um aluno. Nem preciso dizer que um “C” ou um “D” significariam que não valho nada... Estendo a mão e sorteio um pedaço de papel. Abro-o devagar, enquanto mordo o lábio inferior, com um mau pressentimento. Leio o que está escrito, em negrito: AQUECEDORES DE MÃOS.
— Aquecedores de mãos ? — eu pergunto.
Inclinando-se, Joe lê, com uma expressão confusa:
— Que porra são aquecedores de mão?
A Sra. Peterson lança a Joe um olhar de advertência:
— Se você quiser esperar, depois da aula, tenho outro folheto de suspensão, no seu nome, já pronto em minha mesa. Agora, faça o favor de repetir a pergunta, sem usar essa linguagem chula... Ou então fique para conversarmos.
— Pode ser até divertido discutir com a senhora, mas prefiro ocupar o tempo estudando com minha parceira de Química — Joe responde, e ainda tem a coragem de piscar para Zac. — Bem, vou reformular a pergunta: o que, exatamente, são aquecedores de mãos?
— Química Térmica, Sr. Fuentes. Nós a utilizamos para aquecer as mãos.
Joe volta-se para mim, com seu largo e provocante sorriso.
— Tenho certeza de que podemos encontrar outros modos de nos aquecer.
— Odeio você — digo, alto o suficiente para que Zac e o resto da classe escutem. Se eu deixar suas investidas sem resposta, minha reputação irá para o lixo. E se eu deixar que ele me faça de boba, minha mãe me bombardeará a cabeça com teorias sobre o supremo valor da reputação e tudo o mais.
Sei que a classe inteira está nos assistindo, até mesmo Miley, que acha que Joe não é tão ruim, como todos pensam. Será que ela não consegue enxergá-lo, ou está cega por seu belo rosto e sua popularidade entre os amigos?
Joe murmura:
— Há uma fina linha divisória entre o amor e o ódio. Talvez você esteja confundindo essas duas emoções.
Fico o mais longe possível dele, enquanto respondo:
— Eu não apostaria nisso.
— Ah, eu apostaria. — Os olhos de Joe se voltam para a porta da classe. Um amigo dele acena, da janela. Provavelmente, os dois combinaram de matar aula juntos.
Joe pega seus livros e se levanta.
— Sente-se, Joe — diz a Sra. Peterson.
— Mijei nas calças.
A professora franze as sobrancelhas e põe a mão na cintura:
— Controle sua linguagem. Pelo que me consta, você não precisa de livros para ir ao banheiro. Coloque-os de volta na mesa.
Joe contrai os lábios, mas obedece.
— Eu avisei que não permitiria nenhum acessório relacionado a gangues, em minha aula — diz a Sra. Peterson, olhando para o lenço que Joe está segurando, à sua frente.
— Joe, me dê isso aqui — ela ordena, estendendo a outra mão.
Ele olha para a porta e então encara a Sra. Peterson:
— E se eu me recusar?
— Joe, não me provoque. Lembre-se da tolerância zero... Você quer uma suspensão? — Ela estala os dedos, sinalizando que se ele não entregar o lenço imediatamente, terá de arcar com as consequências.
Com uma carranca e um gesto lento, ele obedece. A Sra. Peterson prende a respiração, ao arrancar o lenço dos dedos de Joe.
— Oh, meu Deus! — eu grito, ao ver a grande mancha em sua virilha.
Um a um, os alunos começam a rir. Zac é o que ri mais alto:
— Não se preocupe, Fuentes. Minha bisavó tem o mesmo problema... Nada que uma fralda não resolva.
Isso me atinge em cheio porque, ao ouvir Zac falar em fraldas para adultos, penso imediatamente em minha irmã. Zombar dos adultos que não podem cuidar de si mesmos não é nada engraçado... Afinal, Shelley é uma dessas pessoas. Joe ostenta seu largo e provocante sorriso, enquanto diz a Zac:
— Sua namorada não conseguia ficar com as mãos longe das minhas calças, companheiro... Ela estava me mostrando algumas novas definições para “aquecedores de mãos”, sabe?
Agora ele foi longe demais. Eu me levanto, arrastando minha banqueta no chão.
— Você pediu — eu digo.
Joe está prestes a me responder, quando a Sra. Peterson grita:
— Joe ! — E limpa a garganta. — Vá ao banheiro e... recomponha-se!
Joe pega seu material e sai da classe. Volto a me sentar na banqueta. Enquanto a Sra. Peterson tenta acalmar o resto da classe, penso que meu sucesso, ao evitar Carmen Sanchez foi apenas passageiro.
Se ela apenas suspeitava que sou uma ameaça ao seu relacionamento com Joe, os boatos sobre o que acaba de acontecer, e que certamente vão se espalhar, serão a prova que faltava para lhe dar uma certeza.
JOE *
Ah, isso é perfeito! A Peterson e o Aguirre de um lado, na sala da diretoria, e a Pequena Miss Perfeição e seu namorado idiota do outro... E eu, sozinho, em pé. Ninguém está do meu lado, isso é mais do que certo.
Aguirre limpa a garganta.
— Joe, esta é a segunda vez, em duas semanas, que você vem à minha sala.
Sim, isso resume tudo. O cara é, definitivamente, um gênio.
— Senhor... — respondo, entrando no jogo, porque estou cansado de ver a Pequena Miss Perfeição e seu namorado controlando a droga deste colégio. — Sofri um pequeno acidente na hora do almoço: caiu gordura em minha calça. Para não perder a próxima aula, pedi a meu amigo, Harry, que me arranjasse outra. — E mostro o jeans que Harry conseguiu surrupiar da minha casa. Virando para minha professora de Química, digo: — Afinal, eu não deixaria que uma pequena mancha me privasse de sua brilhante aula.
— Não tente me agradar, Joe — Peterson bufa. — Estou farta, estou até aqui, por conta do seu comportamento absurdo — ela diz, erguendo a mão bem acima da cabeça. Então olha para Demetria e Zac. Quando penso que Peterson vai livrar a cara do casal maravilha, ela ataca: — E vocês dois não estão lá muito melhores do que Joe, no meu conceito.
Demetria fica atordoada com a bronca. Mas parecia bem satisfeita quando a Sra. Peterson estava me esculhambando.
— Não posso fazer parceria com ele — desabafa a Pequena Miss Perfeição.
Zac resolve intervir.
— Ela pode juntar-se a Tiffany e a mim.
Quase sorrio quando as sobrancelhas de Peterson se erguem... Tanto, que penso que vão subir pela testa e nunca mais parar.
— Vocês se acham tão especiais, a ponto de mudar meu cronograma?
Dá-lhe, Peterson! Sem esperar que os dois alunos que vivem no “lado certo” da cidade respondam à pergunta, Aguirre brada:
— Nadine, é melhor tirar esse quadro da parede, já que os alunos o ignoram tão acintosamente. — E aponta a pintura espetacular que retrata nosso colégio. Então, prossegue: — O lema do Colégio Fairfield, caso vocês ainda não tenham reparado, é “A Diversidade Gera Conhecimento” e está lavrado no mural da entrada principal. Então, na próxima vez em que passarem por ali, dediquem um minuto para refletir sobre o significado dessas palavras. Quero que saibam que, como novo diretor, minha meta principal é preencher qualquer lacuna, na cultura deste estabelecimento, que possa negar essa verdade... E estender uma ponte sobre o abismo das diferenças, promovendo assim uma integração entre todos nós.
Ok, então “a Diversidade Gera Conhecimento”. Mas, que eu saiba, isso sempre gerou ódio e ignorância. Não estou a fim de manchar a doce visão de Aguirre sobre o nosso lema, porque estou começando a acreditar que ele realmente acredita em tudo isso que está dizendo.
— Concordo plenamente com o Dr. Aguirre — diz Peterson, lançando-me um olhar feroz, que a prática tornou muito convincente.
— Portanto, Joe, pare de provocar Demetria. — E voltando o mesmo olhar para a dupla maravilhosa arremata: — Quanto a você, Demetria, pare de agir como uma diva. E você, Zac... Bem, não sei o que você tem a ver com tudo isso.
— Sou o namorado dela.
— Então, eu apreciaria muito se você mantivesse seu relacionamento fora da minha aula.
— Mas... — Zac começa.
Peterson o interrompe com um gesto:
— Já basta. Esta conversa termina aqui... E isso vale para você, também, Demetria.
Zac agarra a mão da diva e os dois se mandam. Enquanto caminho para fora, Peterson toca o meu cotovelo:
— Joe ?
Paro e olho para ela. Mais que tudo, há simpatia em seus olhos... E essa constatação não me desce muito bem.
— Sim?
— Entendo o que se passa com você, sabe?
Preciso acabar com essa simpatia. A última vez que uma professora me olhou desse jeito, foi há muito tempo, no primeiro grau, logo depois que mataram meu pai a tiros.
— Estamos na segunda semana de aulas, Nadine. Você precisa esperar um mês ou dois, antes de fazer uma declaração dessas.
Ela ri e diz:
— Não tenho muito tempo de magistério, mas conheço muitos mais Joe Fuentes do que a maioria dos professores.
— E eu pensava que era único... — Levando as mãos ao peito, digo: — Você me magoou, Nadine.
— Então você quer ser único, Joe ? Pois muito bem, é simples: não caia fora... Termine o curso e entre numa universidade.
— Este é o plano — eu digo, embora jamais tenha admitido isso antes. Sei que minha mãe gostaria que eu fosse para a universidade, mas nós nunca discutimos o assunto. E, para ser franco, nem sei se ela realmente espera por isso.
— A princípio, todos falam assim. — Peterson abre a bolsa e pega meu lenço. — Não deixe que sua vida fora do colégio decida o seu futuro — diz, me olhando com gravidade.
Guardo o lenço no bolso de trás do jeans. Ela nem imagina o quanto minha vida lá fora influi na vida que levo aqui dentro. Um edifício de tijolos expostos não pode me proteger do mundo exterior. Que inferno, eu não poderia me esconder do mundo aqui, no Colégio Fairfield, mesmo que quisesse.
— Sei o que você vai dizer, em seguida: “Se precisar de uma amiga, Joe, estou aqui.”
— Errou, Joe. Eu não sou sua amiga. Se fosse, você não seria membro de uma gangue. Mas vi seu histórico escolar... Vi suas notas. Você é um garoto inteligente, que pode ser muito bem-sucedido, se levar os estudos a sério.
Bem-sucedido. Sucesso. Tudo isso é muito relativo, não?
— Posso voltar para a classe, agora? — pergunto, porque não sei o que responder. Por quem sou, estou pronto a aceitar que a professora de Química e o novo diretor estejam contra mim... Mas agora já não tenho certeza se os dois estão mesmo do outro lado... E isso joga minhas teorias por água abaixo.
— Sim, vá para a classe, Joe.
Saio, ainda pensando nas palavras de Peterson... E então a ouço dizer:
— Se você me chamar de Nadine de novo, pode ter certeza de que levará outra suspensão e a ordem para escrever uma redação sobre o tema Respeito. Lembre-se de que não sou sua amiga.
Enquanto caminho pelo corredor, sorrio para mim mesmo. Essa mulher sabe jogar com folhetos de suspensão e ameaças de redação... como se fossem armas!
.....................continua ...........
Mais um capitulo .........espero que estejam gostando .. :)) logo as coisas vão ficar mais interessantes para Demi e Joe ....eu garanto ....então é isso galera ...segunda posto o outro OK ?!
COMENTEM BASTANTE ....BEIJOSS
perfeito <3 <3 <3 <3
ResponderExcluirjoe e demi u.u
kkkkkkk
adorei
posta logooo
beijos
Eu adorei esse capítulo. Foi muito engraçado cara. Quero que eles comecem a se dar bem logo :)) xoxo
ResponderExcluirFabíola Barboza
Ansiosa pra que esses encontros fora da escola começem. E sinceramente esse Zac é mt idiota. Nojento. Enfim. Ansiosa pro próximo cap
ResponderExcluirPOOOOOSSSTTAA
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