DEMI *
Estou mexendo no meu armário, depois da aula, quando minhas amigas Morgan, Madison e Megan se aproximam. Sel costuma chamá-las de “As 3 M de Fairfield”. Morgan me abraça:
— Oh, meu Deus, você está bem? — ela pergunta, se afastando um pouco para me observar.
— Vi quando Zac defendeu você. Ele é incrível. Você tem muita sorte, Demi — diz Madison. E seus cachos balançam, como se acompanhassem o ritmo das palavras.
— Não foi tão grave assim — digo, cogitando sobre o tipo de boato que a essa altura deve estar correndo... Em contraste com o que realmente aconteceu.
— O que, exatamente, Joe disse? — Megan pergunta. — Caitlin fotografou, com o celular, o momento em que ele e Zac se encontraram no corredor...
— Ei, garotas, não vão se atrasar para o ensaio — grita Tiffany, do final do corredor, e desaparece tão rápido quanto chegou. Megan abre seu armário, que fica perto do meu, e pega seus pompons:
— Detesto o jeito como Tiffany bajula a Sra. Small — ela resmunga.
Fecho meu armário e, junto com elas, caminho em direção à quadra.
— Acho que ela está tentando se concentrar na coreografia, para não ficar pensando o tempo inteiro na volta de Tyler à faculdade.
Morgan suspira:
— Sei lá! Eu nem tenho um namorado, mas a minha nota para ela é zero em simpatia.
— Também não sinto a menor simpatia por ela — diz Madison — Falando sério, me digam quando aquela garota não está namorando alguém...?
Ao chegar à quadra, encontramos toda da nossa turma sentada no chão, esperando pela Sra. Small.
Ufa, ainda bem que não estamos atrasadas.
— Ainda não consigo acreditar que Joe Fuentes é seu parceiro em Química — Tiffany me diz, baixinho, enquanto me acomodo no lugar vago, ao lado dela.
— Quer trocar de parceiro? — pergunto, sabendo que a Sra. Peterson jamais permitiria.
Tiffany põe a língua para fora, num gesto grosseiro e vulgar:
— Nem em sonhos! Eu nunca me envolvo com o pessoal da zona sul. Misturar-se com aquela gente só pode trazer problemas. Você se lembra do que aconteceu no ano passado, quando Alyssa McDaniel começou a sair com aquele garoto... Qual era mesmo o nome dele?
— Jason Avila? — digo, em voz baixa.
Tiffany estremece. E confirma:
— Sim... Em poucas semanas, Alyssa deixou de ser a pessoa maravilhosa que era, para virar um peixe fora d’água. As meninas da zona sul a odiaram, por estar namorando um de seus garotos... E ela parou de andar com a gente. O pobre casal ficou totalmente isolado... Graças a Deus, Alyssa rompeu o namoro.
A Sra. SmaII se aproxima, com seu CD player, reclamando que alguém tirou o aparelho do lugar... E foi por isso que ela se atrasou. Quando a Sra. Small começa o alongamento, Selena cutuca Tiffany, empurrando-a para o lado, para poder falar comigo.
— Menina, você está encrencada — diz Sel.
— Por quê?
Sel, minha melhor amiga, tem uma “super” audição e uma “super” visão; sabe tudo o que se passa em Fairfield.
— Há um boato, por aí... — ela me avisa. — Parece que Carmen Sanchez está à sua procura.
Oh, não. Carmen é namorada de Joe. Tento não enlouquecer, não pensar no pior... Mas Carmen é durona, desde suas unhas pintadas de vermelho, até suas botas de salto agulha. Será que está com ciúmes, por eu ser parceira de Joe em Química? Ou será que ela pensa que dedurei seu namorado para o diretor?
A verdade é que não entreguei Joe. Fui chamada à sala do Dr. Aguirre porque hoje de manhã alguém viu o que aconteceu no estacionamento, depois viu nossa discussão na escada e foi contar para ele... O que, por sinal, é ridículo, já que nada de mais grave ocorreu. O Dr. Aguirre não acreditou em mim. Pensou que eu estivesse muito assustada... E que por isso não contei a verdade. Bem, eu não estava com medo. Mas agora estou. Carmen Sanchez pode me pegar, num dia desses. Ela provavelmente sabe como usar armas... Quanto a mim, a única arma que conheço são os meus pompons. E eu seria louca se acreditasse que eles podem assustar uma garota como Carmem. Talvez eu pudesse me sair bem, numa maratona de palavras. Mas, definitivamente, não numa briga corpo a corpo. Os garotos brigam por conta de um gene inato, primitivo, que os leva a testar sua capacidade física. Talvez Carmen queira provar algo para mim, mas, falando sério, não há necessidade. Afinal, eu não represento nenhuma ameaça. Mas como explicar isso a Carmen? Não posso simplesmente chegar para ela e dizer: “Ei, garota, não pretendo dar em cima do seu namorado. E nunca reclamei dele para o Dr. Aguirre.” Talvez eu devesse fazer isso...
A maioria das pessoas pensa que nada pode me tirar do sério. E eu não vou contar a elas que não é bem assim, que algumas coisas me aborrecem. Trabalhei muito para criar e manter essa fachada... E não estou a fim de perder tudo isso só porque a namorada de um cara — que é membro de uma gangue perigosa! — resolveu me pôr à prova.
— Não estou preocupada com esse assunto — eu digo a Sel.
Minha melhor amiga balança a cabeça:
— Eu te conheço, Demi. Você está super-nervosa — ela murmura.
As palavras de Sel me deixam mais apreensiva do que a ideia de ter Carmen em meu encalço. Pois eu realmente tento, com todo empenho, manter as pessoas à distância... Para que elas não saibam como sou, na verdade... Para que não saibam o que é viver numa casa como a minha. Mas deixo que Sel saiba mais sobre minha vida do que qualquer outra pessoa. Ou eu deveria ser mais reservada, em nossa amizade? Assim, poderia manter Sel a uma certa distância. A uma distância segura.
Eu sei, claro, que estou sendo paranóica. Sel é uma amiga de verdade. No ano passado, chorei muito porque minha mãe sofreu uma crise nervosa... E Selena estava a meu lado, apesar de eu não ter lhe contado o motivo da crise. Ela me confortou, deixou que eu chorasse à vontade, mesmo quando me recusei a contar os detalhes. Não quero ser igual a minha mãe, não quero acabar desse jeito... Este é o maior medo que tenho, na vida. A Sra. Small nos manda entrar em formação e aciona o CD player, com a sequência que o pessoal do Departamento de Música compôs especialmente para a nossa turma. É uma mistura de hip-hop e rap, especialmente para a nossa coreografia, que nós batizamos de Big, Bad Bulldogs, pois o símbolo do nosso time é um buldogue. Meu corpo todo vibra com o ritmo. É por isso que eu adoro ser líder de torcida.
A música me conduz e me faz esquecer os problemas de casa. A música é minha droga, a única coisa que me alivia a dor.
— Sra. Small, podemos começar a partir da posição Broken T, em vez da posição T, como fazíamos antes? — pergunto. — A partir daí vamos para o V, Low e High, com Morgan, Miley e Caitlin avançando para a frente. Acho que assim ficará melhor. A Sra. Small sorri, obviamente encantada com minha sugestão.
— Boa ideia, Demi. Vamos tentar... Começaremos com a posição com os cotovelos dobrados. Durante a transição, quero Morgan, Miley e Caitlin na primeira fileira. Lembrem-se de manter os ombros relaxados. Selena, por favor, não dobre os pulsos... Eles devem ser uma extensão, uma continuidade dos braços.
— Sim, professora — diz Sel, atrás de mim.
A Sra. Small coloca a música novamente, O ritmo, a letra, os instrumentos... tudo penetra em minhas veias e me ergue, não importa o quanto eu esteja me sentindo triste. Enquanto danço, em sincronia com as outras garotas, esqueço Carmen e Joe e minha mãe e tudo o mais.
A música termina muito rápido. A Sra. Small desliga o CD player, mas eu bem que gostaria de continuar dançando. Na segunda vez em que repetimos, a coreografia sai melhor. Mas há vários movimentos que ainda precisam ser trabalhados. E algumas meninas, novatas, estão tendo dificuldade em aprender os passos.
— Demi, ensine os movimentos básicos para as novas garotas. E então tentaremos repassar, uma vez mais, a coreografia inteira — diz a Sra. Small, entregando-me o CD player. — Tiffany, revise os passos mais difíceis com o resto da turma. Miley está no meu grupo. E se ajoelha para tomar um gole de sua garrafa de água.
— Não se preocupe com as ameaças de Carmen — ela me diz. — Em geral, Carmen mais late do que morde.
— Obrigada — eu digo.
Miley parece grotesca, com seu lenço da Sangue Latino, e os braços geralmente cruzados sobre o peito, numa postura de quem está sempre pronto a se defender. Mas tem um olhar suave... E está sempre sorrindo. Seu sorriso suaviza a aparência rude. Se ela usasse uma fita pink nos cabelos, em vez do lenço vermelho da gangue, aposto que pareceria bem mais feminina.
— Você está na mesma classe que eu, na aula de Química, não é mesmo? — pergunto.
Ela responde com um gesto afirmativo.
— E você conhece Joe Fuentes?
Ela responde com o mesmo gesto.
— E esses boatos que correm sobre ele... são verdadeiros? — pergunto, cautelosamente, sem saber como Miley vai reagir. Se eu não tomar cuidado, acabarei tendo mais uma no meu pé...
Os longos cabelos vermelhos de Miley se movem enquanto ela fala:
— Depende de que boatos você está falando.
Antes que eu despeje a lista de fofocas sobre o uso de drogas e as prisões de Joe, Miley se levanta e diz:
— Escute, Demetria... Nós nunca seremos amigas. Mas acho importante dizer que apesar de Joe ter se portado muito mal com você hoje, ele não é tão mau como dizem por aí... Nem tão mau quanto ele mesmo se acha.
Antes que eu possa fazer outra pergunta, Miley volta ao seu lugar, na coreografia.
Uma hora e meia depois, quando estamos exaustas, desgastadas — e até mesmo eu acho que já dançamos o suficiente —, somos dispensadas do ensaio. Faço questão de caminhar ao lado de Miley, que transpira muito, e dizer a ela que foi muito bem, no ensaio.
— Verdade? — ela pergunta, aparentando surpresa.
— Você aprende rápido — eu digo. E é mesmo. Para uma garota que nunca lidou com pompons, antes, ela pegou os movimentos bem depressa. — Por isso coloquei você na fila da frente.
Enquanto Miley continua de queixo caído com o elogio, eu me pergunto se ela acredita nos boatos que certamente já ouviu, a meu respeito. Não, nós nunca seremos amigas... Mas posso dizer, também, que nunca seremos inimigas. Digo “até logo” a Miley e vou ao encontro de Sel, que está ocupada com o celular, escrevendo um torpedo para Justin, seu namorado. Caminhamos juntas em direção ao meu carro.
Encontro um pedaço de papel, dobrado, sob o limpador de pára-brisas. Abro: é o folheto de suspensão, que Joe recebeu. Eu o amasso e jogo dentro da minha mochila.
— O que é isso? — Sel pergunta.
— Nada — eu digo, esperando que ela perceba que não estou a fim de falar sobre o assunto.
— Ei! — grita Tiffany, correndo em nossa direção. — Vi Zac no campo de futebol. Ele disse para você esperá-lo.
Olho para o meu relógio de pulso. Já são seis horas e preciso ir para casa ajudar Baghda a preparar o jantar de Shelley.
— Não posso — digo.
— Justin respondeu meu torpedo — diz Sel. — E está nos convidando para comer uma pizza, na casa dele.
— Eu vou! — diz Tiffany. — Tenho me sentido tão entediada, agora que Tyler voltou a Purdue... Provavelmente, só nos veremos daqui a algumas semanas.
— Pensei que você iria visitá-lo no próximo sábado — diz Sel, que continua a escrever no celular.
Tiffany põe as mãos nos quadris.
— Bem, isso foi antes dele me ligar dizendo que precisaria dormir na casa da Fraternidade, por conta de um daqueles rituais malucos de iniciação. Desde que o pênis de Tyler esteja intacto, quando tudo isso acabar, para mim está tudo bem.
Ao ouvir a palavra “pênis” procuro minhas chaves na bolsa. Quando Tiffany começa a falar de sexo, o jeito é bater em retirada, porque ela não para nunca mais. E como não costumo compartilhar minhas experiências sexuais, ou a falta delas, com ninguém, é melhor dar o fora... E este me parece o momento perfeito para escapar. Enquanto giro o chaveiro no dedo, Sel me avisa que vai pegar uma carona com Justin, de modo que voltarei para casa sozinha. Gosto de estar só. Ninguém para me ver ou julgar. Posso até ouvir música, no máximo volume, se quiser. Porém, esse prazer dura pouco, pois meu celular vibra. Tiro-o do bolso e olho o display. Duas mensagens de voz e uma mensagem de texto... Todas de Zac.
Retorno a ligação e ele atende:
— Demi, onde você está?
— A caminho de casa.
— Vá para a casa do Justin.
— Minha irmã está com uma nova enfermeira — explico. — Preciso ajudá-la.
— Você ainda está zangada por eu ter ameaçado aquele marginal que é seu parceiro de Química?
— Não estou zangada. Só aborrecida. Eu disse que podia lidar com a situação, mas você me ignorou totalmente... E provocou aquela cena no corredor. Você sabe que não pedi para ser parceira dele, Zac.
— Eu sei, Demi. Acontece que detesto aquele cara. Por favor, não fique zangada.
— Não estou — eu digo. — Apenas, detestei ver você furioso daquele jeito... E sem nenhuma razão.
— Detestei ver aquele cara falando bem perto do seu ouvido.
Sinto uma dor de cabeça se aproximando... com força total. Não preciso de Zac fazendo uma cena, toda vez que um cara falar comigo. Ele nunca agiu assim, antes. Sua atitude me deixou bem exposta a críticas e fofocas... Coisa que, para mim, é detestável.
— Vamos esquecer isso — eu proponho.
— Por mim, tudo bem. Então, me ligue à noite — ele diz. — Mas se você puder dar um pulo até o Justin, eu estarei por lá.
Quando chego em casa, Baghda está no quarto de Shelley, no primeiro andar, tentando trocar sua calcinha à prova de vazamentos... Mas colocou Shelley na posição errada, com a cabeça onde geralmente ficam os pés, e uma perna pendendo para fora da cama. Em resumo, um desastre. Baghda está arfando, como se essa fosse a tarefa mais difícil que ela já realizou na vida. Será que minha mãe checou as referências dessa moça?
— Pode deixar que eu faço isso — digo a Baghda, afastando-a para o lado e assumindo o controle da situação. Costumo trocar minha irmã desde que nós éramos crianças. Não é nada divertido trocar as roupas íntimas de uma pessoa que pesa mais do que você. Mas se você fizer direito, isso não levará muito tempo e nem será muito trabalhoso. Minha irmã abre um imenso sorriso, quando me vê:
— Dem !
Ela não consegue pronunciar bem as palavras, mas em geral consegue um som bastante aproximado.. E eu sorrio de volta, enquanto tento colocá-la numa posição melhor, na cama.
— Ei, menina... Como está seu apetite, para o jantar? — pergunto, pegando alguns lenços umedecidos e tentando não pensar no que estou fazendo. Enquanto ponho uma nova calcinha e um moletom em Shelley, Baghda me observa. Tento explicar tudo em detalhes, enquanto executo a tarefa, mas basta-me um olhar para Baghda, para concluir que ela não está me ouvindo.
— Sua mãe falou que eu poderia ir embora, assim que você chegasse — diz Baghda.
— Tudo bem — respondo, enquanto lavo as mãos. E Baghda desaparece, como num passe de mágica, bem no estilo de Houdini... Levo Shelley, na cadeira de rodas, até a cozinha que, em geral, é imaculadamente limpa... Mas agora está um caos. Baghda não lavou a louça, que está empilhada na pia,
nem limpou direito a bagunça que Shelley fez, quando jogou sua tigela de iogurte no chão. Preparo o jantar de Shelley e limpo a sujeira. Com a voz arrastada, Shelley tenta pronunciar a palavra “escola” que na verdade soa como “cola” mas entendi o que ela quis dizer.
— Sim, hoje foi meu primeiro dia de aula — conto a Shelley, enquanto mexo a sopa e coloco-a na mesa. Levo a colher de sopa à sua boca e continuo: — Minha nova professora de Química, a Sra. Peterson, deveria ser monitora de acampamento, sabe? Dei uma olhada em sua planilha... Pelo que vi, não vai se passar uma semana sem que ela nos dê uma prova ou um questionário. Este ano não vai ser nada fácil, menina...
Minha irmã me olha, compreendendo aos poucos o que acabo de dizer. Seu olhar intenso significa que ela está me dando apoio e compreensão, sem que seja necessário falar... Pois Shelley precisa de um esforço imenso para pronunciar cada palavra. Às vezes tenho vontade de apressar as coisas, de dizer as palavras por ela, porque sinto sua frustração como se fosse minha.
— Você não gostou de Baghda? — pergunto, num tom calmo.
Shelley sacode a cabeça, num gesto de negação. E não quer falar sobre o assunto; percebo isso pelo modo com que ela contrai a boca.
— Tenha paciência com Baghda — eu digo. — Não é nada fácil chegar numa casa desconhecida, sem saber ao certo o que fazer.
Quando Shelley termina de tomar a sopa, eu lhe dou algumas revistas. Ela adora revistas. Aproveito que Shelley está ocupada e preparo para mim um sanduíche de queijo. Começo a fazer meu dever de casa, enquanto como. Escuto a porta da garagem se abrir, no momento em que estou começando meu trabalho sobre “respeito” solicitado pela Sra. Peterson.
— Demi, onde você está? — minha mãe grita, do hall.
—Na cozinha! — eu respondo.
Minha mãe aparece na cozinha, com uma sacola da Neiman Marcus no braço:
— Isto é para você...
Pego a sacola e abro: é um top azul-claro, assinado por Geren Ford.
— Obrigada — eu digo, discretamente, para não fazer muito alarde na frente de Shelley, que não ganhou nada de minha mãe. Não que Shelley pudesse se importar com isso, no momento... Pois está concentrada nas fotos das celebridades mais bem vestidas e mais mal vestidas do ano, nas jóias reluzentes, no glamour estampado numa revista.
— Esse top vai combinar com aquela calça que eu lhe dei, na semana passada — diz minha mãe, retirando do freezer alguns filés e colocando-os no microondas, para que descongelem. — E então, como foram as coisas com Baghda, depois que você voltou para casa?
— Não muito bem — eu digo. — Você realmente deveria ter ficado com ela, nesse primeiro dia, para dar uma orientação, uma assistência.
Minha mãe não responde. E isso não me surpreende. No minuto seguinte, meu pai entra na cozinha, resmungado sobre seus problemas no trabalho. Ele tem uma empresa que fabrica chips para computação. E já nos preveniu, dizendo que este seria um ano de vacas magras. Só que, minha mãe continua fazendo compras, com frequência. E ele me deu um BMW de aniversário.
— O que há para o jantar? — meu pai pergunta, afrouxando o nó da gravata. Parece exausto e desgastado, como sempre. Minha mãe lança um olhar ao microondas:
— Filés..
— Não estou com disposição para alimentos pesados — ele diz. — Quero fazer apenas uma refeição leve.
Irritada, minha mãe desliga o microondas:
— Ovos? Espaguete? — Ela faz várias sugestões... em vão.
Meu pai sai da cozinha. Mesmo quando ele está aqui, fisicamente, sua mente continua ligada no trabalho.
—Tanto faz — ele responde, do corredor. — Algo leve, apenas.
Em momentos assim, eu lamento muito por minha mãe, que nunca recebe uma verdadeira atenção do meu pai. Quando ele não está trabalhando, ou em viagem de negócios, parece sempre distante e alheio. Talvez simplesmente não goste de estar com a família.
— Vou fazer uma salada — eu digo, abrindo a geladeira e pegando um pé de alface. Minha mãe parece grata pela ajuda... Se é que seu pequeno sorriso pode servir de indicação. Trabalhamos, ambas, lado a lado, em silêncio. Arrumo a mesa, enquanto ela traz a salada, os ovos mexidos e as torradas. Em seguida começa a se queixar, dizendo que não está sendo valorizada... Mas compreendo que ela só quer que eu a escute, sem dar palpites. Shelley continua entretida com suas revistas, alheia à tensão entre meus pais.
— Na sexta-feira irei para a China, por duas semanas — meu pai anuncia, ao voltar à cozinha, usando moletom e camiseta T-shirt. Senta-se pesadamente no lugar costumeiro, à cabeceira da mesa, e serve-se de ovos mexidos. — Nosso fornecedor de lá está enviando material com defeito... E vou descobrir por que.
— E quanto ao casamento do filho dos De Maio? Será no próximo fim de semana e nós já confirmamos presença.
Meu pai deixa cair o garfo no prato e olha para minha mãe:
— Sim, tenho certeza de que esse casamento é mais importante do que o bom andamento dos meus negócios.
— Patrick, eu não quis dizer isso — minha mãe argumenta, soltando seu próprio garfo no prato. É um milagre que nossos pratos não tenham trincas permanentes. — Apenas, não fica bem cancelar um compromisso desses assim, de última hora.
— Você pode ir sozinha, se quiser.
— E deixar que as pessoas comecem a especular o motivo da sua ausência? Não, obrigada.
Esta é um conversa típica do jantar dos Lovato: meu pai contando sobre o quanto seu trabalho é árduo, minha mãe tentando manter nossa fachada de família feliz, e eu e Shelley quietinhas, nos bastidores...
— Como foi o colégio, hoje? — minha mãe finalmente me pergunta.
— Tudo bem — eu digo, omitindo a parceria com Joe Fuentes. — Minha professora de Química é uma fera.
— Talvez você nem devesse ter aulas de Química, neste ano — meu pai comenta. — Se você não conseguir uma média alta, nessa matéria, seu histórico escolar estará irremediavelmente comprometido. A Northwestern é uma universidade difícil... E eles não vão facilitar as coisas para você, só porque eu estudei lá.
— Eu sei, papai — digo, agora me sentindo totalmente deprimida. Se Joe não levar nosso projeto de Química a sério, como poderei tirar um “A”?
— A nova enfermeira de Shelley começou hoje — diz minha mãe. — Você se lembrou disso, Patrick ?
Meu pai dá de ombros. Quando a última enfermeira se demitiu, ele disse que deveríamos internar Shelley numa instituição. Não me lembro de ter gritado tanto, em minha vida, como naquele dia. Pois eu nunca deixaria que mandassem Shelley para um lugar onde ela pudesse ser negligenciada ou incompreendida. Preciso manter um olho nela, o tempo inteiro. Por isso é tão importante, para mim, entrar na Northwestern, que é aqui perto. Ficando próxima de casa, posso continuar morando aqui, posso me certificar de que meus pais não mandarão Shelley embora. Às nove, Megan me liga para se queixar de Tiffany. Diz que Tiffany mudou muito, durante o verão, e agora está se achando o máximo, só porque começou a sair com um cara da Universidade. Às nove e meia, Tiffany me liga para dizer que acha que Megan está com ciúmes, só porque ela está saindo com um cara da Universidade. Às nove e quarenta e cinco, Sel me liga para dizer que conversou com Megan e também com Tiffany, nesta noite... E que não devemos nos envolver nessa história... Eu concordo, mas acho que já nos envolvemos. Às dez e quarenta e cinco, finalmente termino meu texto sobre “respeito” para entregar à Sra. Peterson, e então ajudo minha mãe a pôr Shelley na cama. Estou tão exausta, que minha cabeça parece prestes a se desprender do pescoço e cair... me enfio na cama, depois de vestir o pijama, e ligo para Zac.
— Ei, baby — ele diz. — O que você andou fazendo?
— Não muita coisa... Estou na cama. E você se divertiu, lá no Justin ?
— Nem tanto quanto eu me divertiria, se você estivesse junto.
— Quando você voltou?
— Há mais ou menos uma hora. Estou tão feliz por você me ligar!
Puxo meu edredom até o queixo e afundo a cabeça no meu travesseiro macio.
— É mesmo? — digo, num tom sedutor, tentando ganhar um elogio. — E por quê?
Faz muito tempo que ele não diz que me ama. Sei que ele não é a pessoa mais carinhosa deste mundo... Meu pai também não. Mas preciso ouvir isso de Zac. Quero que ele diga que sentiu minha falta. Que sou a garota dos seus sonhos. Zac limpa a garganta, antes de dizer:
— Nós nunca fizemos sexo por telefone, não é, Demi ?
Bem, não eram essas as palavras que eu esperava ouvir. Mas não devo me decepcionar, nem me surpreender. Afinal, Zac é um rapaz. E sei que os rapazes só pensam em fazer sexo e se divertir. Hoje à tarde, quando li o que Joe escreveu no meu caderno, sobre ter sexo quente, senti algo esquisito, que logo sufoquei... Claro que ele nem imagina que sou virgem. Zac e eu nunca fizemos sexo. Nem de verdade, nem por telefone. Chegamos bem perto disso, em abril do ano passado, na praia, nos fundos da casa de Sel... Mas eu me acovardei. Não estava preparada.
— Sexo por telefone?
— Sim... Comece a se tocar, Demi. E, depois, me conte o que estiver fazendo. Isso vai me deixar muito excitado.
— E o que você vai fazer, enquanto eu estiver me tocando? — pergunto.
— Ora, o que você acha que farei... meu dever de casa? Vou me masturbar, é claro.
Começo a rir... Um riso que é mais nervoso do que divertido, pois não nos vemos há algum tempo, nem sequer conversamos muito... E agora ele quer que a gente passe do simples “olá, que bom nos encontrarmos depois de um verão inteiro separados” para “comece a se tocar enquanto me masturbo” em um só dia. Sinto-me no meio de uma música de Pat McCurdy.
— Ora, vamos, Demi — diz Zac. — Encare isso como um ensaio, antes de partirmos para a prática real... Tire sua camisola e comece a se tocar.
— Zac... — eu digo.
— O quê?
— Desculpe, mas não vou fazer isso... Ao menos não neste momento.
— Tem certeza?
— Sim... Você ficou zangado?
— Não — ele responde. — Mas achei que isso seria bom para esquentar um pouco o nosso relacionamento.
— Eu nem sabia que estávamos frios.
— Os estudos, os treinos, os encontros com a turma... Acho que depois de passar o verão fora, não aguento mais a velha rotina. Pratiquei esqui aquático, wakeboarding e viagens off-road... Coisas que fazem o coração bater e o sangue bombar, você sabe... Pura adrenalina!
— Parece incrível.
— E foi mesmo. .....Demi...?
— Sim?
— Estou pronto para essa viagem de adrenalina... com você.
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MAIS UM CAPÍTULO POSTADO ......HOW ...SERÁ QUE AS COISAS ENTRE ZAC E DEMI VÃO ESQUENTAR ????? HOT PELO TELEFONE ....OMG !!!! KKKKKKK
COMENTEM AMORES ....BEIJOSS
Amei u.u.
ResponderExcluirQuero mais kkkk Zac força cara.. Fabíola Barboza
zac força barra kkkk <3 <3 <3 <3 <3 <3<3 <3 adorei tudoooo
ResponderExcluirposta logooo sua diva
beijos
Kkkkkkkk mds. Zac meio doido. Esperando ansiosamente pelo próximo cap
ResponderExcluirPosta gata
ResponderExcluirPosta mais
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